Foto: Renan Mattos (Diário)
Na contramão da rede pública, escolas municipais, como a Duque de Caxias, em Santa Maria, têm mais estudantes em relação ao ano anterior
Em 2017, foi o orçamento apertado que levou a família de Matias Souza Ferreira, 12 anos, a trocá-lo de uma escola. Naquele ano, ele deixou uma escola particular, ao concluir o 5º ano do Ensino Fundamental, para ingressar em uma instituição da rede estadual. Depois, foi a greve de professores que motivou uma nova mudança. Em 2018, o aluno ingressou em uma escola da rede municipal.
Esses fatores reforçam os resultados apresentados pelo Censo da Educação Básica, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No ano passado, as escolas municipais registraram 17.761 matrículas, um aumento de 2,7% em relação a 2017, com 17.294.
Já a rede estadual contabilizou 13.959 alunos em 2018, contra 15.318 no ano anterior, uma queda de 9,7%. A greve prolongada, de cerca de 90 dias, aliada à falta de estrutura e manutenção das escolas, estão entre os motivos que levaram 1,3 mil estudantes a procurarem outras instituições de ensino. A situação de Santa Maria é semelhante a da maioria dos municípios da região (confira no quadro ao lado) e acompanha uma tendência de todo o Rio Grande do Sul. De acordo com o Censo, no total, a rede estadual teve 845.732 alunos matriculados em 2018. Com isso, foram 40.281 estudantes (4,5%) a menos do que em 2017, com 886.013 matrículas.
- Infelizmente, tivemos que abrir mão da escola particular. Pensamos muito antes de decidir, mas tivemos mais despesas com o aluguel, a conta de luz e o transporte. Uma pena que a rede estadual esteja tão abandonada. Os professores são ótimos, e fazem milagres. Espero que, um dia, esse cenário mude - avalia Maria Izabel, mãe do aluno Matias.
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Na avaliação da superintendente do Setor Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, Gisele Bauer, o aumento no número de alunos na rede municipal representa, também, maior responsabilidade para cumprir metas, manter a qualidade e um quadro de professores compatível com o número de estudantes.
- Esses números resultam em um grande desafio, que é o de garantir a qualidade de ensino. A Secretaria busca fazer a gestão desses dados com muita responsabilidade e trabalha, junto aos diretores das escolas, para atender à demanda de vagas com qualidade - explica Gisele.
Já a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) informou que está fazendo um diagnóstico para avaliar a situação das escolas de sua rede. Não está descartado o fechamento de instituições por conta da evasão e do orçamento. A pasta diz que "do orçamento de R$ 9,1 bilhões destinados para a educação, R$ 8,1 bilhões são destinados para folha de pagamento. Por isso, é preciso repensar seriamente uma série de questões".
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ORÇAMENTO APERTADO
Enquanto as escolas de Educação Básica têm diferentes realidades entre as redes municipal e estadual, as instituições privadas também investem em estratégias para segurar a evasão. Entre elas, segundo o Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), estão a decisão de não repassar o aumento de gastos básicos, como luz e suprimentos, para as mensalidades, a concessão de bolsas e os investimentos em estrutura e materiais didáticos.
Para o economista e colunista do Diário Mateus Frozza, a migração de alunos da rede privada para a pública - no caso de Santa Maria, para a rede municipal - se deve por fatores como desemprego, dívidas e aumento das despesas com contas de luz, aluguel e combustível.
- Isso não ocorre somente na Educação Básica, mas em todos os níveis de ensino. Instituições de Ensino Superior e escolas de idiomas também têm registrado queda no número de alunos - avalia Frozza.
Para que famílias como a de Matias tomem a decisão de mudar de escola, é preciso calcular cada detalhe do orçamento.
- A crise demora para chegar no setor educacional, pois se faz várias outras concessões no orçamento familiar antes de ter reflexo na educação do filho. Porém, quando atinge esse setor, é porque a situação está muito ruim - complementa.
Mesmo com esse cenário financeiramente desfavorável, em 2017, a rede privada matriculou, em todo o Estado, 15.688 alunos, segundo dados do Sinepe. Até o fechamento desta edição, a entidade ainda não tinha os números referentes ao censo de 2018. Porém, aponta que estima um crescimento de 4% no número de matrículas para 2019 em todo o Rio Grande do Sul.
ENSINO PÚBLICO NA REGIÃO
Santa Maria
Rede | 2017 | 2018 | % |
Nº de alunos do município | 17.294 | 17.761 | +2,7 |
Nº de alunos nas escolas estaduais | 15.318 | 13.959 | -9,7 |
Total | 32.612 | 31.720 | -2,8 |
Com mais matrículas
Município | 2017 | 2018 | % |
Agudo | 2.501 | 2.510 | +2,36 |
Cruz Alta | 10.122 | 10.253 | +1,30 |
Faxinal do Soturno | 903 | 965 | +6,87 |
Com menos estudantes
Município | 2017 | 2018 | %
|
Cacequi | 2.135 | 1.997 | -6,9
|
Dona Francisca | 605 | 510 | -18,65
|
Formigueiro | 1.197 | 1.171 | -2,22
|
Itaara | 843 | 832 | -1,4
|
Ivorá | 341 | 319 | -6,9
|
Jari | 575 | 458 | -25,5
|
Júlio de Castilhos | 3.453 | 3.316 | -4,15
|
Lavras do Sul | 1.354 | 1.300 | -4,2
|
Mata | 795 | 771 | -3,15 |
Nova Esperança do Sul | 915 | 880 | -4
|
Nova Palma | 1.026 | 950 | -8 |
Paraíso do Sul | 977 | 946 | -3,3
|
Pinhal Grande | 669 | 608 | -10
|
Rosário do Sul | 5.789 | 5.069 | -12,3
|
Santa Margarida do Sul | 377 | 346 | -9
|
Santana da Boa Vista | 1.354 | 1.336 | -1,3
|
Santiago | 7.579 | 7.399 | -2,45
|
São João do Polêsine | 492 | 479 | -2,6
|
São Martinho da Serra | 513 | 485 | -5,8 |
São Pedro do Sul | 2.485 | 2.379 | -4,43 |
São Sepé | 3.390 | 3.211 | -5,6 |
São Vicente do Sul | 1.359 | 1.293 | -5,15
|
Silveira Martins | 380 | 358 | -6,3 |
Toropi | 396 | 378 | -4,8 |
Tupanciretã | 4.271 | 4.046 | -5,5
|
Unistalda | 421 | 411 | -2,5 |
Vila Nova do Sul | 760 | 711 | -7 |
Município | 2017 | 2018 | %
|
Caçapava do Sul | 5.660 | 5.643 | +0,3 |
Dilermando de Aguiar | 497 | 492 | -0,6
|
Itacurubi | 530 | 528 | -0,4 |
Jaguari | 1.465 | 1.471 | +0,4
|
Quevedos | 430 | 428 | -0,4
|
Restinga Sêca | 2.320 | 2.313 | -0,3
|
São Francisco de Assis | 2.935 | 2.909 | -0,8
|
São Gabriel | 10.717 | 10.703 | -0,1 |